RODERICK STEEL
FILMMAKER & VISUAL ARTIST
MCM (2013)
Meditação Contemplação Manifestação
Meditation Contemplation Manifestation
Em parceria com / In partnership with
Adriana Tabalipa
Curadoria de Adolfo Montejo Navas
Estudio Dezenove. Santa Tereza, RJ
Continuum
“Todos os átomos que se encontram no ar e no deserto, saiba que estão possuídos como nós, e que cada átomo, ditoso ou desditoso, fica aturdido pelo sol da alma incondicionada”
Jalal-od-Din-Rumi
Há uma linha invisível que está inscrita na performance, um gesto espacial que sismografa as dimensões em que nos movemos e que se pode re-significar como um tipo de desenho ampliado (espacial, intersubjetivo, social, astral...) De fato, no meio de um clima cidadão que quer contestar a mentira da representação, a política separada da ética ou o conchavo do lucro com a impunidade, a performance de Adriana Tabalipa e Roderick Steel Meditação Contemplação Manifestação (MCM) se situa numa latitude sui generis, lateral: concentrada no espaço aparentemente limitado da Vitrine Efêmera, mas também a vista de todos, do olhar da rua. Numa fronteira de percepção, portanto. Dentro de um observatório ou de uma plataforma que é um casulo espacial e por sua vez uma cápsula temporal, a parceria dos dois artistas visa focar e contemplar algo a mais além do visível, do evidente, pois a rigorosa ocupação artística pretende criar um instante já, um ponto de encontro (outro), sabendo já que o maior do ser é estar em sintonia com o universo e com o outro, duas cosmologias imbricadas pelo preço de uma. Trata-se, apesar de sua ascética estética em preto e branco (o que inclui paredes, roupas, objetos, instrumentos de desenhar...), de uma ação meditativa, reflexiva, uma captação energética que religa os olhos e as mãos como extensões vinculantes através de formas que rodam, de movimentos circulares tanto para dentro como para fora (do micro e macro em que nos inscrevemos sempre, não tão harmonicamente), e onde os pontos, as bolas, os anéis, as circunferências são ressonâncias visuais em trânsito, altamente simbólicas de esferas, moléculas, planetas (já que o círculo, para a maioria das crenças religiosas e geografias culturais, tem o poder do circum-ambulação, do rito do redemoinho, a alegoria de uma integração cósmica), e mostra, por sua vez, o percurso da ação e a sua simbologia Ying/Yang, o fluxo luz/sombra, masculino/feminino, dia/noite, alma/corpo como polaridades em junção, em síntese. Mãos-útero ou vice-versa? Catedral para um interior, como aquela pequena peça de Rodin? A dinâmica da ação comporta esta dialética do giro, do movimento que reintegra a circunferência a seu centro, e esta conexão-liberação atravessa a roupa, os objetos o espaço, o vidro de uma Vitrine ritualizada, convertida em eixo de uma experiência que ressoa, vibra. E não é estranho pensar neste contexto que o desenho e a performance sejam duas atividades atávicas, primogênitas. Recentemente, a caverna dos sonhos esquecidos filmada por Werner Herzog (2010) também apontava na mesma direção, para a prolongação do desenho (instalação arqueológica), de seu gesto atávico, até agora. Com outras inscrições na caverna efêmera também se pode sentir esta linguagem sígnica tão primeva do homem: “de grafar para manifestar sua expressão e comunicar algo...e de certa forma estaremos em um dentro, só que translúcido como é a vitrine...mas a noção de rito conecta com a caverna...com a noção do interior que manifesta ao exterior...somos cada um uma espécie de caverna também...“ (Adriana Tabalipa, e-mail ao autor, 28-VIII-2013). Manifestação Contemplação Meditação, como fios-terra (pelo movimento vertical) e relógios humanos (pelo movimento circular), quer estabelecer um continuum (de ação e instalação gráfica ampliada) onde o testemunho – a própria sequência – é passado tanto entre os protagonistas quanto entre a esfera pública, já com a mediação de nossa presença. Como tal performance, Meditação Manifestação Contemplação deixa sempre um rastro sinuoso, que é, no fundo, um desenho vivo, uma caligrafia espacial, um misto de obra imaterial e material. Assim como interroga: quando a performance não é, em parte, um portal para outras coordenadas, um canal, o reconhecimento de um limiar, uma procura de outro continuum?
Adolfo Montejo Navas
Foz do Iguaçu/Rio de Janeiro, agosto de 2013